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domingo, 16 de maio de 2010

Análise (um clássico de Fernando Pessoa)

Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar,que, ao entreter
Os meus olhos nos teus,perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és,que, só por ter-me
Consciente de ti,nem a mim sinto.
E assim,neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo,nem vendo,nem sabendo
Que te vejo,ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.

(escrito por Fernando Pessoa em dezembro de 1911)

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